As poeticamente chamadas primaveras árabes têm vindo a proporcionar terríveis imagens na televisão, tão terríveis como pareciam esfusiantes os momentos de libertação dos tiranos que foram destronados ou assassinados. Quero acreditar e penso que devemos todos acreditar que estas imagens e estes actos de terror não significam o que é o Islão nem têm nada a ver com a Fé que anima os seguidores muçulmanos, mas temos que reconhecer que são aterradoras. No entanto, li no El País que um jovem estudante na Universidade Americana no Cairo participou no ataque à embaixada americana apesar de não ser especialmente religioso nem ter visto o filme que deu o rastilho a estes últimos tumultos alegando que "estamos fartos de que os EUA equiparem o Islão com o terrorismo". Duvido que o seu gesto tenha contribuido para esclarecer o assunto. Ouvi há dias, no Centro Ismaelita, a apresentação do livro “The Spirit of Tolerence in Islam”, de Reza Shah-Kazemi, estudioso investigador e autor de livros vários na área dos estudos comparados das religiões e do islamismo e fiquei vivamente impressionada com o que disse, com a forma como explicou o sentido de alguns versículos usados de forma deturpada em muitos slogans de ira e incitamento à intolerância e ao ódio. Fiquei também preocupada com a minha própria ignorância sobre outras religiões, a origem delas, o tronco comum e o sentido profundamente universal e humano das que hoje surgem nos écrans como inimigas e inconciliáveis, dizia o autor que a ignorância é a base da propagação de interpretações deturpadas e as imagens, o medo e a violência fazem o resto. As tempestades a que assistimos nas Primaveras enchem-nos de medo e de angústia perante o futuro, talvez a esperança esteja em que possam chegar a esses e a todos os povos mais educação, também sobre a cultura e religião de outros povos, mais aprendizagem, mais liberdade no sentido de um pensamento crítico e esclarecido. Pode levar gerações, mas temos que acreditar que é possível.
3 comentários:
Li ha uns anos um livro de José Rodrigues dos Santos, onde é muito bem explicada a forma como a religião islâmica é apresentada e ensinada às crianças, desde a idade escolar. Nesse livro, ficamos com a ideia mais ou menos precisa, que os versículos do alcorão são disciplinarmente decorados e que a sua interpretação, a cargo dos professores se subordina a interesses que visão a manutenção de poderes instalados, relacionados com poderes económicos e militares.
Daí as dissidências de intelectuais que decidem não alinhar em jogos de poder, os quais nos países árabes, põem em risco a própria vida.
Entretanto, fiquemos com o sempre agradável som de Cat stevens, neste caso, depois de convertido ao islamismo, Yousuf Islam.
http://www.youtube.com/watch?v=5FIOqYsTJa0&feature=relmfu
;))
A "criatividade" de uns desde sempre colidiu com a intolerância de outros, seja através da literatura (temos casos de escritores que satirizam e ridicularizam passagens bíblicas), seja através da multimédia, seja através de elementos pictóricos, etc.
Ora, também aqui, é difícil sabermos até onde pode ir a noção de limite. E como sabemos, a noção de "limite" não é igual para todos...
As ditas "Primaveras" ficaram-me logo claras após ler o comentário de Wadah Khanfar, presidente do Fórum Sharq e antigo director da Al-Jazeera Network, afirmando: "It is past time for the West to accept the Arab people’s will and to stop exaggerating the repercussions of change. The West must support genuine democracy in the Arab world. If the Arab Spring is aborted, the result will be not dictatorships that are loyal to the West, but rather, a tsunami of rage that will spare no one. There is nothing more dangerous than aborted dreams, especially when those dreams may be the last chance for change."
Junto a essa opinião ríspida, não se pode esperar muito mais de povos que defendem ideais com violência gratuita.
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