De vez em quando lembram-se de mim para fazer conferências e participar em debates. Nada de especial se for no âmbito da saúde. Mas, atendendo às especificidades das áreas em que navego, saúde pública, saúde ambiental, epidemiologia e medicina preventiva, acabo muitas vezes em fora de outras áreas. E começa a ser muito frequente. A última teve a ver com “Green Buildings”. Nessa reunião, dominada por arquitetos, engenheiros, geógrafos e políticos, aparece um médico. Bem, no mundo atual, em que comentadores políticos "ensinam" saúde e palram com um à-vontade surpreendente sobre a gripe A, considero-me “autorizado” a falar sobre tudo, sobre políticos e, no caso vertente, sobre edifícios verdes, metendo a foice em arquitetura alheia. E foi o que fiz.
Um dos participantes denunciou a “verdolatria”, a idolatria do verde. Concordo com o senhor geógrafo. De facto, anda tudo a ficar verde! Não é que tenha alguma coisa contra esta cor, exceto o facto de me lembrar a expressão “verde de raiva”, que não é nem mais nem menos do que a cor da bílis. Imaginem um fígado raivoso face a tantos disparates que se praticam por aí. Como pensam que irá reagir? É fácil, produzindo quantidades industriais de bílis, ao ponto de ficar esverdeado de indignação.
Apercebi-me que os senhores arquitetos – cuja função social é indiscutível -, têm as suas regras e códigos, materializados na expressão de Marcus Vitruvius Pollio, (arquiteto e engenheiro romano que viveu no século I a.C.), “utilitas, venustas e firmitas” (utilidade, beleza e solidez). Mas, a par desta tríade, importa garantir a saúde e bem-estar das pessoas. Foi o que eu fiz, com algumas atitudes provocadoras, já que alguns dos males têm origem ou são desencadeados dentro das habitações, e de outros edifícios, nos quais passamos a maior parte do tempo. A este propósito, teci algumas considerações sobre a qualidade do ar interior, sobre a síndroma do edifício doente, sobre a necessidade de usar materiais menos agressivos, cheguei a especular com a necessidade de haver uma arquitetura da disposição dos aparelhos elétricos, para evitar agressões de campos eletromagnéticos, caracterizei, embora sumariamente, os resultados de um estudo sobre o ar interior das habitações portuguesas. Enfim, desempenhei o meu papel, invocando a segurança e a saúde dos indivíduos. Fiquei um pouco surpreso pelas reações dos restantes companheiros de mesa, quando descaíram para caricaturar algumas das minhas opiniões. Olá, pensei eu, devo estar no bom caminho! Verifiquei, como já vem sendo habitual, que a assistência gosta de se colar a atitudes sedosas, emitindo risinhos a roçar a timidez. Tive que explicar que a minha missão era provocar e não ser um apaniguado da criatividade dos arquitetos.
A “utilidade” é importante? É. A “beleza” é necessária? Sem dúvida. A “solidez” é recomendável? Com certeza. E quanto à saúde e bem-estar? Na minha opinião também deve ser respeitada. E a este propósito afirmei que o famoso arquiteto Santiago Calatrava, autor da gare do Oriente, deveria ser obrigado a ter que apanhar o comboio naquela estação, pelo menos durante 365 dias seguidos. As condições são de tal ordem que, ou muito me engano, já deverá ter sido responsável por inúmeras gripes e até mesmo pneumonias. Frio, chuva, sol e correntes de ar permanente caracterizam aquele “útil, belo e sólido” lugar. O pior é o resto, ao ponto de terem sido construídas umas gaiolas - salas de espera -, que protegem os pobres viajantes do permanente desconforto. As” gaiolas” deverão constituir uma violação do “espaço”, a suprema preocupação e matéria de reflexão para os arquitetos. Violação feliz, não para os que defendem os princípios vitrunianos, mas, para aqueles que têm que utilizar notáveis espaços arquitetónicos. Ao “verde da caricatura” contrapus o “verde da bílis”, e tudo, porque, volta e não volta, acabo por dar ao meu fígado o privilégio de pensar. Um “alívio ecológico”...
Um dos participantes denunciou a “verdolatria”, a idolatria do verde. Concordo com o senhor geógrafo. De facto, anda tudo a ficar verde! Não é que tenha alguma coisa contra esta cor, exceto o facto de me lembrar a expressão “verde de raiva”, que não é nem mais nem menos do que a cor da bílis. Imaginem um fígado raivoso face a tantos disparates que se praticam por aí. Como pensam que irá reagir? É fácil, produzindo quantidades industriais de bílis, ao ponto de ficar esverdeado de indignação.
Apercebi-me que os senhores arquitetos – cuja função social é indiscutível -, têm as suas regras e códigos, materializados na expressão de Marcus Vitruvius Pollio, (arquiteto e engenheiro romano que viveu no século I a.C.), “utilitas, venustas e firmitas” (utilidade, beleza e solidez). Mas, a par desta tríade, importa garantir a saúde e bem-estar das pessoas. Foi o que eu fiz, com algumas atitudes provocadoras, já que alguns dos males têm origem ou são desencadeados dentro das habitações, e de outros edifícios, nos quais passamos a maior parte do tempo. A este propósito, teci algumas considerações sobre a qualidade do ar interior, sobre a síndroma do edifício doente, sobre a necessidade de usar materiais menos agressivos, cheguei a especular com a necessidade de haver uma arquitetura da disposição dos aparelhos elétricos, para evitar agressões de campos eletromagnéticos, caracterizei, embora sumariamente, os resultados de um estudo sobre o ar interior das habitações portuguesas. Enfim, desempenhei o meu papel, invocando a segurança e a saúde dos indivíduos. Fiquei um pouco surpreso pelas reações dos restantes companheiros de mesa, quando descaíram para caricaturar algumas das minhas opiniões. Olá, pensei eu, devo estar no bom caminho! Verifiquei, como já vem sendo habitual, que a assistência gosta de se colar a atitudes sedosas, emitindo risinhos a roçar a timidez. Tive que explicar que a minha missão era provocar e não ser um apaniguado da criatividade dos arquitetos.
A “utilidade” é importante? É. A “beleza” é necessária? Sem dúvida. A “solidez” é recomendável? Com certeza. E quanto à saúde e bem-estar? Na minha opinião também deve ser respeitada. E a este propósito afirmei que o famoso arquiteto Santiago Calatrava, autor da gare do Oriente, deveria ser obrigado a ter que apanhar o comboio naquela estação, pelo menos durante 365 dias seguidos. As condições são de tal ordem que, ou muito me engano, já deverá ter sido responsável por inúmeras gripes e até mesmo pneumonias. Frio, chuva, sol e correntes de ar permanente caracterizam aquele “útil, belo e sólido” lugar. O pior é o resto, ao ponto de terem sido construídas umas gaiolas - salas de espera -, que protegem os pobres viajantes do permanente desconforto. As” gaiolas” deverão constituir uma violação do “espaço”, a suprema preocupação e matéria de reflexão para os arquitetos. Violação feliz, não para os que defendem os princípios vitrunianos, mas, para aqueles que têm que utilizar notáveis espaços arquitetónicos. Ao “verde da caricatura” contrapus o “verde da bílis”, e tudo, porque, volta e não volta, acabo por dar ao meu fígado o privilégio de pensar. Um “alívio ecológico”...
3 comentários:
Senhor Professor:
A observação que faz sobre a Gare do Oriente, também eu a senti na primeira vez que a visitei. Disse para mim: "...que diabo, quem fez esta coisa tão necessária,tão bela e tão desconfortável?..." Quanto à segurança, aqueles muito belos arcos ogivais não me mereceram muito crédito.Veremos...
Respeitosos cumprimentos
Salvador Silva
A questão do desconforto da gare do Oriente colocou-se desde a primeira hora. Lembro-me de Santiago Calatrava ter sido questionado sobre a matéria, ao que respondeu que a gare era um mero local de passagem, não uma sala de estar...
É culpsado, mas não o único, nem talvez o principal.O principal foi o dono da obra, que se deixou levar por todos os caprichos do arquitecto.
Pois é! Um mero local de passagem para muitos e um local de trabalho para poucos. Não é uma sala de estar, mas acabaram por construir salas de estar! Mas mesmo sendo um local de passagem as "correntes de ar" são muito perigosas. Se não estou em erro foi Napoleão que disse que "não tinha medo de uma batalha mas sim de uma corrente de ar"! Às tantas foi o que aconteceu em Waterloo, correntes de ar a mais. No entanto,curisosamente, na Waterloo Station não há riscos de "correntes de ar"...
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