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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A cigarra e a formiga (versão moderna) III

Nota prévia: Texto adaptado de versão francesa cuja origem desconheço. Como tal, limite-se o leitor a aceitá-lo na precisa situação concreta, não extrapolando para situações de diferente natureza.
O capítulo I pode ser visto aqui e o capítulo II pode ser visto ali.
Perante tão insustentável situação, movimentaram-se as habituais forças da solidariedade palavrosa, mas falta de acção, no sentido de uma intervenção governamental. Logo uma equipa de sociólogos, médicos, psicólogos e assistentes sociais se dirigiu ao abrigo para verificar das condições de vida das cigarras e acompanhantes, trabalho acompanhado por uma multiplicidade de Observatórios das diversas áreas sociais. O Relatório produzido chamava a atenção para o estado de profunda carência da comunidade, devido à falta de alimentos e de condições mínimas de habitabilidade.
Os jornais e televisões iniciaram fortes críticas ao governo pela ausência de políticas sociais que protegessem situações como a das cigarras. E se alguns partidos da direita condicionavam um apoio de emergência à contrapartida da colaboração das cigarras na animação de festas do Inatel, os partidos de esquerda logo consideraram tal uma provocação, atribuindo-lhes um rendimento mínimo, agora financiado por novos impostos sobre a bicharada que ainda encontrava no país.
E o Governo louvou-se mais uma vez na sua política social. Todavia, não conseguindo cobrar mais impostos, pois as formigas já todas tinham abalado, procurou no aumento da dívida os meios para a resolução do problema. Mas, não conseguindo mais empréstimos, culpou os especuladores e o capital financeiro internacional. E as cigarras, sem formiga que lhes valesse, a pouco e pouco foram morrendo à míngua, até porque as lindas palavras e eloquentes discursos das esquerdas não conseguiram nunca tirar-lhes a fome. E o país, que já não tinha formigas, ficou também sem cigarras. Excepto as que conseguiram reincarnar em políticos bem seguros a tudo prometer, mas a nada terem para dar. Apenas palavras.
FIM

9 comentários:

Guilhotina disse...


Partido de direita? Qual partido? Esse partido está em vias de desaparecer.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Dr. Pinho Cardão
Um fim que dificilmente terminaria de outra forma. Nem as formigas emigradas quiseram ajudar, perceberam que as suas remessas acabariam mal governadas.

Suzana Toscano disse...

Ai, ai, que triste fim, o meu amigo não quer inovar no conto e imaginar um epílogo melhor? É que ainda queremos acreditar que haja qualquer coisinha fora dos écrans, sei lá, uma vontade real de levar o País a bom porto...

Anónimo disse...

Trágico. Também esperava um FMI, digo, um FIM mais feliz...

Pinho Cardão disse...

Ora aqui está uma interessante dialéctica: a Margarida acha que o fim não podia ser outro, a Suzana invoca vontades de alterar o curso dos acontecimentos e o Ferreira de Almeida esperava um fim mais feliz.
Acontece que não há vontade que resista às ondas avassaladoras de palavreado oco.
Tal como as coisas estão, não será a política a resolver coisa alguma. Serão as próprias forças da economia a fazê-lo.
Antes de Keynes, também houve crises e momentos de apogeu. E ciclos económicos. E a economia não desapareceu. Foi, até, sendo cada vez mais forte.

Suzana Toscano disse...

Caro Pinho Cardão, a prova de que a política é essencial é que atribuímos à falta dela, ou ao seu exercício canhestro, muitos dos males da economia e da sociedade. Sem a política não se resolve nada, caro amigo, o que é a economia sem a política, nem que seja a política de não interferir para depois se exigir que interferisse para ter evitado desastres?

Anónimo disse...

Pois eu acho que mesmo com política a menos e economia em excesso, o fim desta estória passará sempre pela energia das formiguinhas.

Pinho Cardão disse...

Ora aí está, caro Ferreira de Almeida.
Acontece que muita gente continua a pensar que é o estado que tem que lhes resolver os problemas.

Stoudemire disse...

Lindo!

Afinal (oh, santa ingenuidade minha!), esta patetice presta-se a leituras políticas.

O que o autor da «coisa» não percebeu é que a formiga representa o exato oposto do que ele defende.

Pense lá um bocadinho, ó iluminado, e veja o que a organização de uma colónia de formigas representa, que forma de organização política é que simboliza.

Ah, santinha da ladeira!