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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Paz


É um sítio mágico, só pode. Sempre que vou à localidade entro naquele espaço. A alvura das paredes e o silêncio entrecortado por agradável música de fundo faz sentir a alegria e o renascer da paz. Há qualquer coisa de misterioso que convida à reflexão, ao abandono dos sentidos e ao adormecimento dos problemas. Mesmo o frio é diferente, enquanto lá for agride o pescoço, aqui não, um calor natural que arrefece a inquietação e alumia a mente. Há qualquer coisa de misterioso que me impele, mesmo que seja por breves minutos, a entrar neste espaço. Faço-o com prazer e até por necessidade, porque há algo de misterioso que não consigo explicar. Entrei, estava vazio, exceto na capela lateral. Uma senhora vestida de casaco vermelho rezava com empenho à Senhora. Uma pessoa de fé, naturalmente. Não sei o que lhe disse ou o que pediu, mas fosse o que fosse decerto terá sentido tranquilidade, porque o ambiente está repleto de partículas de paz que se respira e que se sente. Olhei para aquele quadro, ela, ajoelhada, empenhada fervorosamente na sua fé, iluminada por uma luz natural diferente da cinzenta deste dia, e a bela imagem a dominar do alto o silêncio do início da tarde. Estava vaidosa, até um pouco radiante para o que é costume. Percebi de imediato a razão, belos arranjos florais foram colocados no altar e na base do mesmo. Alguém ali os colocou, pareciam trigémeos, mas afinal havia ainda mais, dispersos pelos recantos do templo, sete ao todo, todos bem elaborados, ricos de luz, de cheiro e de cor. Estou sozinho, gosto de estar sozinho, como se o templo fosse meu. Não há dourados, não há talhas, apenas paredes brancas, pedra e algumas imagens a relembrar as virtudes de quem já foi humano, e pouco mais. Mas o espaço é maravilhoso, tem um encanto que me atrai. Leve, suave, quente, tranquilo, inunda a alma de qualquer um de paz, não digo de esperança, mas apenas de paz. O tempo para. Deve ser isso, aqui o tempo para, afinal talvez seja essa a razão de tanto mistério, encontrar um local onde o tempo para e não nos magoe nem nos ofenda. Estou sozinho, sabe-me bem-estar sozinho, mas para se estar sozinho temos de encontrar o local certo, eu encontrei-o e descrevo-o no próprio local. Sou obrigado a fazer isso, mas apenas para o meu bem.
Olho para as horas. Tenho que me ir embora. Quantos minutos estive aqui? Contei-os, uma eternidade momentaneamente interrompida.

4 comentários:

Bartolomeu disse...

Este post descreve um sentimento e um gosto que me são comuns; Ler através dos sentidos.
Também gosto de "praticar" este "exercício"que o caro Professor descreve: entrar num templo e senti-lo, como que estando a mergulhar lentamente dentro de mim mesmo e a sentir-me nas mais ténues vibrações, analisando-me em simultâneo; matéria e espírito; isolado mas sem perder a noção de fazer parte de um mundo em constante frémito e em perpétua mudança, ao qual será forçoso regressar.
Variadíssimas vezes também me assaltou o mesmo pensamento que o caro Professor transcreve neste pequeno trecho: « ...e algumas imagens a relembrar as virtudes de quem já foi humano...». E penso: é possível ser-se humano e virtuoso?
Depois, é forçoso que concluamos que o vistuosismo, é algo que compete à humanidade atribuir...

Suzana Toscano disse...

Caro amigo, há muitas formas de rezar. Esta é uma delas, belíssima.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Professor Massano Cardoso
Mesmo para estar sozinho é preciso escolher a companhia...

filomena disse...

O Sr Professor é um Homem Espiritual. E as pessoas Espirituais são diferentes.

Filomena