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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

FMI: duro puxão de orelhas ao sistema bancário, c'os diabos!

1. Para além das avaliações trimestrais ao cumprimento do Programa da Ajustamento, (vai agora na 6ª, como sabemos), que realiza em conjunto com a EU, o FMI realiza, com periodicidade mais espaçada (de 2 em 2 anos, por regra), as chamadas “consultas” ao abrigo do artigo 4º dos seus estatutos, que consistem numa avaliação global do desempenho das economias dos países membros e em especial da consistência das respectivas políticas económicas.
2. Uma dessas “consultas” foi agora realizada à economia portuguesa, tendo o FMI divulgado ontem, no seu site, um sumário das conclusões desse trabalho (PORTUGAL: 2012 ARTICLE IV Consultation Concluding Statement of the IMF Mission).
3. No 1º parágrafo desse Statement é apresentada uma síntese que considero quase lapidar das causa dos graves problemas económicos e financeiros com que estamos defrontados e tentando superar, com muito custo. Passo a citar breves passagens desse parágrafo, em inglês com a devida vénia, por me parecer mais expressivo...
4. “Economic institutions and policies proved ill-adapted to the demands and opportunities of monetary union and globalization. The rapid transition from decades of financial repression and monetary instability was proving difficult”.
5. Logo a seguir, um juízo bastante severo quanto aos efeitos da união monetária: “Monetary union, instead of delivering on the promise of sustainable catch-up growth to EU living standards, facilitated the accumulation of economic and financial imbalances”...
6. Depois, um duro puxão de orelhas ao sistema bancário “Abetted by a banking system prone to allocating too much credit to poor risks, leverage in the non-tradable sector increased markedly, nothwithstanding weak productivity growth”...
7. Dizer que o sistema bancário se mostrou, ao longo de anos a fio, propenso a alocar crédito em excesso a riscos de má qualidade, daí resultando um crescimento considerável do nível de alavancagem do sector de bens não transaccionáveis...é certamente uma verdade insofismável, infelizmente...
8. ...mas escrito pelo FMI, nesta altura dos acontecimentos, constitui um puxão de orelhas bem duro, que tem destinatários bem identificáveis...quem tem as orelhas a arder?

13 comentários:

Diogo disse...

Bingo, Tavares Moreira!

Mas será mais difícil explicar:

Existe no mundo de hoje, ao que tudo indica, uma força financeira centralizada operada por meia dúzia de homens que está a levar a cabo um jogo gigantesco e secretamente organizado, tendo o mundo como tabuleiro e o controlo universal como aposta.

Hoje ninguém acredita que a finança seja nacional nem ninguém acredita que a finança internacional esteja em competição. Existe tanta concordância nas políticas das principais instituições bancárias de cada país como existe nas várias secções de uma empresa – e pela mesma razão, são operadas pelas mesmos poderes e com os mesmos objectivos.


Exemplos da existência de um Monopólio Financeiro Mundial:

a) O facto do Banco Central Europeu ("forçado pelos próprios estatutos") estar impedido de emprestar directamente aos Estados Nacionais, sendo-lhe apenas permitido emprestar aos bancos a um juro próximo do 0%, que, depois, emprestam aos Estados, Empresas e Famílias a juros muitíssimo superiores.

b) Os célebres "bailouts" - dinheiro dos contribuintes oferecido gratuitamente pelos governantes aos bancos (supostamente na falência devido à "Crise Financeira") e considerados demasiado grandes para falir (e cuja queda se estima fosse um desastre para o sistema financeiro).

c) A capacidade mágica que os bancos possuem de criar dinheiro a partir do nada ao conceder crédito (necessitando apenas de uma reserva mínima), e digitando simplesmente essa quantia no teclado de um computador e creditá-la na conta de depósitos à ordem da família, empresa ou Estado que pediu emprestado. Dinheiro que não existia antes em lado nenhum!


Estas fraudes colossais implicam um conluio entre as instituições financeiras que não seria possível sem um comando único.

Certamente, as razões económicas já não conseguem explicar as condições em que o mundo se encontra hoje em dia. Existe um super-capitalismo financeiro que é totalmente sustentado pela ficção de que o dinheiro é riqueza. Existe um super-governo financeiro que não é aliado de governo nenhum, que é independente de todos eles, e que, no entanto, mexe os cordelinhos de todos eles.

Todo este poder de controlo foi adquirido e mantido por uns poucos homens a quem o resto do mundo tem permitido obter um grau de poder desmesurado, indevido e perigoso. Às populações é imperativo engendrar uma forma de arrancar à força o controlo mundial desse grupo de financeiros internacionais que forjam a seu bel-prazer a economia e a política e controlam o mundo através disso.

Tonibler disse...

Uma vez mais estes economistas do FMI, parecem ter recorrido ao gerador de lero-lero 2.0 para esconder uma avaliação verdadeiramente incompreensível para o memorando que assinaram.

O inglês é realmente muito bom, mas teriam que me explicar o que significa "poor risk". Risco alto ou risco baixo? É que se estamos a falar de risco baixo, não me parece errado, se estamos a falar de risco alto, então o puxão de orelhas deveria ser aos reguladores, atendendo que isentam de alocação da capitais os créditos garantidos pelo estado forçando os bancos a emprestar ao estados, castigando as administrações que não o façam (porque não receber mais dinheiro com um menor investimento de capital?).

Mas ainda sendo esta a avaliação, escapa-me completamente porque carga de água estes senhores assinaram um mou onde emprestam dinheiro ao estado para este se alavancar nos bancos que tramou. Afinal, emprestaram dinheiro ao estado para entrar no capital dos bancos para que estes possam multiplicar por 10 o dinheiro que emprestam a este seu accionista indesejável(curiosamente, o crime pelo qual os antigos administradores do BCP estão a ser julgados).

Como termina, caro Tavares Moreira, escrito pelo FMI??? Deveriam ter vergonha! Então é para isto que o mundo inteiro enterra ali uma dinheirama?

Tavares Moreira disse...

Caro Diogo,

Essa teoria parece-me demasiadamente conspirativa para ter pés para andar, perdoe-me a expressão...
Essa história do monopólio financeiro mundial tem uma dose muito considerável de fantasia, pode ser muito bonita para encantar uma audiência de boas almas admiradoras do Estado Social à outrance mas apenas isso.
Há demasiados sistemas financeiros, extremanente fragmentados, por esse Mundo fora, para que a realidade que se nos depara tenha um mínimo (sequer) cabimento no modelo "frankenstainiano" que tão simpaticamente nos quis explicar...

Caro Tonibler,

Poor risk significa simplesmente (como de resto bem sabe) mau ou muito mau risco...
Quanto aos destinatários do puxão de orelhas, deixo-o completamente à vontade para fazer as interpretações que muito bem entender!

Bartolomeu disse...

Caro Dr. Tavares Moreira,
será que podemos retirar das afirmações publicadas pelo FMI, a conclusão de que a UE espera encontrar nas políticas de Portugal as soluções que busca para os seus problemas internos?
Quanto ao nosso sistema bancário, assalta-me uma preocupação; o que sucederá quando deixarem de existir empresas e privados a recorrer à concessão de crédito, por completa falta de condições para isso?
Extingue-se?

Tavares Moreira disse...

Caro Bartolomeu,

As respostas que me sinto capaz de dar, com todo o gosto, às 2 questões que enuncia, são as seguintes: não quanto à 1ª; e não se preocupe, quanto à 2ª.
Não à 1ª, porque os desafios da política para a UE no seu conjunto são bem diversos dos que se colocam para a economia portuguesa.
Não se preocupe, quanto à 2ª, porque o cenário (de verdadeiro stress, neste caso) que enuncia, não deverá verificar-se, nunca faltarão as condições para que as empresas e os privados deixem de necessitar de financiamento bancário.
Mas, deixe-me acrescentar, os bancos bem precisavam de uma valente "seca" da parte dos utilizadores de crédito, para ver se finalmente percebiam que não é razoável/aceitável passar, em matéria de facilidade de crédito, do 80 para o 8...

Bartolomeu disse...

Em total e completa consonância com o caro Dr. Tavares Moreira escreve, no final do seu comentário/resposta. A mim, parece-me que essa "seca" não será evitável. A menos que outro modelo de economia seja concebido, desde que, dependente de financiamento.
Veremos.

Tavares Moreira disse...

Caro Bartolomeu,

A palavra com que encerra o seu comentário - veremos - parece-me ser a chave de toda esta discussão...
Veremos ou aguardemos são expressões aparentemente anodinas mas que representam ou ilustram, em minha modesta opinião, uma grande dose de sabedoria por parte de quem as utiliza, quando as utiliza apropriadamente como sucede no caso vertente.
Com sua licença...veremos, pois.

Anónimo disse...

Finalmente alguem toca no ponto. Sempre estranhei a quantidade de "crédito" que os bancos centrais ponham a circular na epoca de 1990 a 2000. O diferencial que era posto a circular via concessão de liquidez e o requerido para as reservas de caixa era largamente superado, criando assim uma "almofada" de liquidez que era aplicada em alavancagem pelos bancos. Penso que esta crise, sendo uma crise de liquidez, foi perpetuada pelos bancos centrais e que eclodiu depois de más politicas monetárias (subida intempestiva dos juros pelos USA e pelo BCE). Eu penso que esta crise é culpa dos bancos centrais e não propriamente dos Estados.Agora como vamos sair dela é que eu sinceramente não sei...

Mário de Jesus disse...

Dr. Tavares Moreira

Sobre o "puxão de orelhas" que refere do FMI aos sistema financeiro, chegam-me dois pensamentos: o 1º relativo à questão dos reguladores - afinal onde esteve o regulador todo este tempo, não apenas em Portugal, mas também em Portugal e nos restantes países europeus, quando tal descontrolo foi ocorrendo? - Faço notar que este problema não foi uma ocorrência de 1 ou 2 anos mas de mais de uma década de deslizes, excessos e talvez de algumas imprudências.

O 2º pensamento prende-se com a situação vigente. Estarão os bancos com problemas tais que os impede de dedicar à economia (em especial às empresas industriais e exportadoras)o crédito necessário mas suficiente à sua sustentabilidade e progresso, ou estamos perante o cenário que refere, de passar do 80 para o 8, assim sem qualquer razoabilidade?

Neste 2º caso, tendo a estar mais inclinado para a 2ª hipótese mas...


Tonibler disse...

Mas, caro Tavares Moreira, os poor risks dos bancos portugueses, como as carteiras de crédito ao consumo têm uma solidez invejável. Será que os economistas do FMI estão a chamar poor risk emprestar ao estado português? Minha alma pasma, ainda se os empréstimos fossem feitos a Belém...(e o que tem o PR a ver com isso? Se calhar nada, mas arranja-se alguma coisa...)

Tavares Moreira disse...

Unknown,

Como já disse ao Tonibler, pode por o "barrete" em quem quiser, pela minha parte esteja inteiramente à vontade!

Caro Mário de Jesus,

Creio que no 1º ponto toca numa questão sensível, que o FMI deixa em aberto, mas é possível que um bom entendedor lá chegue...
Quanto ao 2º ponto, os relatórios do FMI referentes à avaliação do PAEF têm batido sistematicamente essa tecla da escassez de crédito para a economia produtiva...
E as estatísticas mensais do BdeP, evidenciando uma queda permanente do stock de crédito às empresas não financeiras, tb não permitem outra conclusão...

Sim, caro Tonibler, os créditos ao consumo de particulares são, como bem diz, de uma solidez indestrutível...basta para tanto esquecermos os quase 12% de crédito vencido declarado pelos bancos...
Quantoa um eventual crédito a Belém, teria pelo menos a vantagem de poder ser caucionado com pastéis - congelados, certamente, para manterem algum valor comercial...
Os ditos pastéis não seriam pior caução, por certo, que umas famosas acções que um bem conhecido tycoon da nossa praça ofereceu em garantia de um chorudíssimo empréstimo obtido junto de uma conhecida instituição (felizmente não privatizada), para ajudar na "ocupação" política de uma bem conhecida casa de crédito popular...acções essas que agora valem 1,5/100 do que valiam aquando da abertura da facilidade...e por isso nem chegam para pagar os juros vencidos + vincendos...

Suzana Toscano disse...

Não percebo esta prosa do FMI, pensei que tudo o que aqui se diz fosse já muito claro há muito tempo, pelo menos desde 2008. A menos que considerem que continua tudo mais ou menos na mesma e que as grandes linhas de acção que o FMI vem aplicando aos países para "corrigirem" as suas finanças sirvam de pouco quando este sector parou onde estava.

Tavares Moreira disse...

Cara Suzana,

Não se esqueça que o PAEF teve início em Maio de 2011 e que a análise mais fina aos balanços dos bancos só ocorreu pelo final de 2011/início de 2012...
Em todo o caso, terá razão no ponto em que não faltou quem avisasse para os altos riscos de uma política de crédito ultra-liberal e "poor risks prone"...mas isso foram outsiders, desprezados ou mesmo trucidados pelos seráficos tutores do sistema...