Parece que foi ontem e já festejámos os oito anos.
Há oito anos, quando começámos este blogue, Durão Barroso era, para surpresa de quase todos, o novo Presidente da Comissão Europeia e estreava-se um novo governo, de maioria absoluta socialista, que tinha vencido as eleições em contraposição à “obsessão do défice”, ditada por um processo de défice excessivo recebido como herança do anterior Governo de Guterres. É certo pelo que meio Santana Lopes também teve tempo de decretar o fim da crise – meu Deus, quantas crises vivemos! – mas , de uma forma ou de outra, o facto é que todas as políticas e todos os argumentos para as sustentar invocavam a necessidade de nos ajustarmos ao euro e ao seu impacto na vida dos países. Apesar de haver já sinais muito claros de, por exemplo, excesso de facilidade de crédito às famílias e de serem muitas as vozes que então criticavam as PPP’s e o crescimento da dívida pública, ainda sonhávamos que seria possível continuar a confiar no crescente bem estar, no desenvolvimento, na afirmação da Europa como a “economia mais competitiva do mundo até 2010, com base no conhecimento, era a Agenda de Lisboa, lembram-se? e depois discutiu-se até à exaustão, com referendos enervantes, a importância vital da Constituição que afinal era só um tratado europeu, o Tratado de Lisboa. Assistimos entretanto, estupefactos, à falência de Bancos americanos, esses estouvados que eram grandes demais para falir e que não iriam contagiar ninguém, sobretudo os ajuizados que resistiam a sucessivos testes de stress. Vimos a bancarrota da Islândia, esse fenómeno de progresso, depois o colapso dos bancos irlandeses, não havia contágio nenhum, não senhor, era tudo tão bem explicadinho, sosseguem, a Grécia revelou-se afinal uma trapalhona tão esperta que enganou todos durante tanto tempo, depois, depois, depois.
Oito anos depois, e tanta coisa que se passou apesar de ninguém ter previsto, ou se previu não foi ouvido, mesmo depois de se passar poucos compreendiam, sucederam-se teses imbatíveis, soluções indiscutíveis, urgências demoradas, afirmações inflamadas, acusações mútuas. O que aconteceu nestes oito anos foi uma revolução, há quem diga até que uma guerra sem armas de fogo, e não sabemos ainda, neste lapso de tempo quanto impossíveis se revelaram bem reais, quantas certezas parecem hoje pueris, quantos caminhos seguros desembocaram no abismo.
Foi também neste período que nasceu, cresceu e se foi decantando a febre dos blogues, o desejo de comunicar, de alargar os círculos de discussão, na modalidade cibernética dos antigos ágora, agora na forma escrita, comentada e lida por todos os que, como sempre foi e será, não querem que a História lhes passe ao lado. Aqui, no 4r, juntou-se um desses grupos, de amigos, de companheiros, de cidadãos interessados que se nos juntaram e animaram as conversas, conferindo-lhe uma identidade de que tanto nos orgulhamos e que é, afinal, o testemunho da nossa paixão de intervir.
4 comentários:
Belo resumo, cara Drª. Suzana.
Permito-me realçar o seguinte pedaço de texto «...sonhávamos que seria possível continuar a confiar no crescente bem estar, no desenvolvimento, na afirmação da Europa como a “economia mais competitiva do mundo até 2010, com base no conhecimento...» para assinal como principal causa da actual crise, a utopia deste sonho.
Porem, um sonho lícito de sonhar.
A Europa podia e pode sem qualquer sombra de dúvida, constituir-se uma união efectiva de estados e dessa união nascerem sonhos tão belos como a partilha do conhecimento e o progresso global.
Sabemos hoje, porque a experiência nos revelou, que a morte daquele sonho, se ficou a dever a um virus que em lugar de combatido a tempo, foi, pelo contrário, alimentado: a competição implícita na competitividade. Uma competição derrotadora e assassina, encapada por falaciosos desenhos de amizade.
Todos sabemos que a competição pode gerar desenvolvimento e progresso, mas para isso terá de visar um lucro sustentável e não, imparável, terá de visar a partilha e apoio mútuos e não a supremacia e o domínio, sejam eles de que ordem forem.
Para que um sonho possa ser uma realidade, é necessário que seja partilhado e a partilha não admite vantagens mas sim equilíbrio, cumplicidade e um forte espírito de fraternidade.
“(…)ainda sonhávamos que seria possível continuar a confiar no crescente bem estar, no desenvolvimento, na afirmação da Europa como a “economia mais competitiva do mundo até 2010, com base no conhecimento, era a Agenda de Lisboa, lembram-se?(…)”
É verdade, até conseguimos 2.6% de défice!. O tempo que decorre desde essa altura é pouco na escala das nossas vidas, no entanto longo para destruir sonhos coletivos. E não vale a pena repetirem-se oslogans de então porque, soam falso, a vã esperança dispensada aos moribundos. Chegamos a este ponto; ponto em que uns tantos governam outros tantos sem esperança nem convicções. Será que resulta!?...
Pois aqui no 4R resulta sempre, dizemos o que pensamos abertamente...
Caro Bartolomeu, nós é que sonhávamos porque, na realidade, a Europa não nasceu de nenhum sonho como o que descreve mas da pura necessidade de equilibrar forças e interesses depois da 2ª Grande Guerra e da dependência do carvão alemão para fazer aço francês. A Inglaterra sempre olhou com muita desconfiança a criação de níveis supranacionais de decisão. Eu não acredito em espíritos de fraternidade nesta matéria, mas gostava muito que os interesses de cada País não fossem completamente destroçados no conjunto de forças.
Não sei se resulta, caro jotac, acontece que, a partir de certo ponto de dependência, as escolhas são muito poucas e insuficientes para dar a tal esperança. Mas também é certo que a História é surpreendente e que o que acontece de importante é imprevisível e incontrolável. Será um consolo, ou uma ameaça.
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