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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Morreu Maria Amelia, a avó "bloguera"


Nasceu no dia 23 de Dezembro de 1911, em Murcia, na Galiza. Quando tinha 95 anos os seus netos criaram-lhe um blogue, e, segundo ela, a sua vida mudou, porque passou a poder comunicar “com todo o mundo”. O seu blogue teve 1 703633 visitas de todo o mundo que lhe “alegraram a velhice”.
Da sua nota biográfica, escrita no blogue, consta também a data da sua morte: “Me marche el 20 de Mayo 2009. 35578 dias de vida, ni más, ni menos”.
O último post é da família, que agradece a todos os 880 dias de carinho e apoio fundamental para que Maria Amélia “disfrutasse como nunca estes seus últimos anos”.
Quem convive com pessoas de muita idade sabe que um dos maiores prazeres que lhes podemos dar é ficar a ouvi-los contar as histórias da sua vida, vezes sem conta, ou então contar-lhes pequenas histórias do dia a dia, episódios que possam depois contar ao telefone ou ficar a matutar quando ficam sozinhos.
Os dias são muito compridos quando as pessoas vivem sozinhas e ainda pior quando já não têm autonomia para ir à rua comprar o que precisam, altura em que sempre podem socializar um pouco. Resta-lhes o telefone, a televisão, as visitas de quem se lembra deles e…maravilha!, a blogosfera, para os que ainda tenham a vivacidade de espírito para explorar os mistérios da modernidade – e netos com a paciência e o interesse para lhes despertar esse gosto. A blogosfera também tem essa magia, a de ligar em rede os que vivem isolados, formam-se círculos sem fronteiras onde a conversa segue animada, com risadas e escândalos, alguns segredos espreitados, vidas inventadas, sei lá, o mais importante é que se quebre a solidão.
Quem sabe se o blogue não a ajudou a viver mais tempo só porque tinha companhia e falava pelos cotovelos com quem a queria ouvir?

4 comentários:

Bartolomeu disse...

35.578 dias vividos...
Vistos assim, á unidade, de uma forma "a retalho" parece pouco, muito pouco, contudo, sabemos que muitos de nós nunca chegarão a viver tanto.
Pensando um pouco mais acerca da vida e do uso que fazemos do tempo que nos está destinado para viver, concluímos invariávelmente que aquilo que efectivamente nos importa é que durante esse tempo nos seja permitido realizar.
Realizar projectos. Idealiza-los, concebê-los e colocá-los em prática, depois, saborear calmamente o efeito dessa realização, como pintor ou escultor que admira a sua obra.
Assusta-nos a hipotese de a nossa vida poder ser vazia de concretizações. Assusta-nos o facto de podermos encontrar no nosso caminho, escolhos, baixios que nos façam "encalhar", que nos obriguem contra-vontade à imobilização, que nos castrem a vontade de criar, de gerar.
O tempo que dura a nossa existência, raras vezes é tomado em conta, penso até caríssima Drª Suzana, que pouca consciência temos dele, excepto quando nos lembramos de factos passados e os revemos e localizamos no passar dos anos.
Quando reflicto acerca disto, concluo sempre que a "engrenagem" de que fazemos parte integrante está muitíssimo bem montada, tão bem montada que denuncia claramente a autoria de uma inteligencia superior. Inteligência essa que suspeito, se subordinou à regra das compensações e auto-gerou uma lei universal: Cresces, evoluis, crias, envelheces, recordas.
;)

jotaC disse...

Apesar de ter sido apanhada no “fim” da sua vida por todo este desenvolvimento tecnológico, soube aproveitar, algumas das virtudes deste ciberespaço. Atrevo-me a dizer que, sem o saber, acabou por dar-nos a conhecer qual vai ser o nosso passatempo, se lá chegarmos! Por mim cá estarei a mandar os meus bits e bytes…
:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Costuma-se dizer que a mente comanda a vida. É extremamente importante manter ao longo de toda a vida, e na velhice ainda mais, interesses que estimulem a "razão de viver". É extraordinário vermos pessoas já muito idosas, com uma grande vontade de se manterem activas, fazendo acontecer coisas novas. Foi, ao que parece, o que aconteceu a Maria Amelia, ainda que para espanto de alguns, a provar que vale a pena ter esperança.

Suzana Toscano disse...

Caro Bartolomeu, também me impressionou a contagem dos dias, por um lado parecem imensos, por outro confronta-nos com a finitude, nós que agimos como se o nº de dias de uma vida fosse mais ou menos incontável. Quanto à nossa formidável capacidade de ignorar o decurso do tempo, é de uma enorme generosidade da natureza, ou do Criador, tanto faz, o presente é apenas cada instante, tudo o resto é passado ou futuro.
caro jotac, e que estejamos cá todos para o ler e lhe responder ;)
Margarida, essa capacidade é em parte um dom, em parte o resultado de uma vida propícia a essa curiosidade de espírito e essa abertura.A maior parte dos idosos tem poucas razões para sentir alegria de viver e limitam-se a querer sobreviver ao abandono ou ao isolamento, ainda que tenham condições materiais, é o estímulo da convivência social e o facto de se sentirem queridos que permite que se mantenha a tal chama.